Via Romana XVIII (Geira)

Via Romana;

A Via Nova (Via XVIII): Uma Estrada Imperial no Noroeste da Hispânia

A Via XVIII do Itinerário de Antonino, conhecida como Via Nova ou Geira Romana, representa uma das mais impressionantes obras de engenharia civil romana ainda visíveis na Península Ibérica. Esta estrada imperial, que ligava Bracara Augusta (Braga) a Asturica Augusta (Astorga), destaca-se pela excepcional preservação do seu traçado e pela notável quantidade de miliários que ainda hoje marcam o seu percurso.

Fundação e Propósito

A Via Nova foi construída durante a dinastia flaviana, mais precisamente em 80 d.C., sendo inicialmente projetada pelo imperador Vespasiano e concluída pelos seus filhos Tito e Domiciano. O projeto foi executado sob a supervisão de Caio Calpetano Râncio Quirinal Valério Festo, cônsul sufecto do senado romano em 71 e legado imperial no convento bracaraugustano entre 78 e 80 d.C. Este importante aliado de Vespasiano promoveu inúmeras obras públicas e assumiu-se como curator viarum da Via Nova.

A construção da Via Nova deve entender-se num contexto de crescimento económico da região, articulado com a intensificação da exploração do ouro, fundamental à economia do Império. Este novo itinerário surgiu após a pacificação dos territórios hispânicos e a concessão por Vespasiano do estatuto de direito romano a toda a Hispânia, confirmando a atenção dos imperadores flávios pela administração e economia do Noroeste peninsular.

A Via Nova é citada no Itinerário de Antonino como "Item alio itinere a Bracara Asturica" (outro caminho de Braga a Astorga), abrindo um novo trajecto entre Bracara e Asturica Augusta, através do coração da região mineira do Noroeste. Esta via, juntamente com as vias XVI, XVII e XIX, completava o sistema de comunicações terrestres entre os principais centros urbanos da Hispânia romana do noroeste.

Características Construtivas

A Via Nova foi construída com um ancho suficiente para o cruce de dois carros, possuindo, em geral, uma plataforma de 6,00 - 7,00 metros. A largura dos pontes que serviam esta via era ligeiramente menor, mas ainda assim impressionante para a época: a Ponte da Ribeira do Forno tinha 5,40 m, a Ponte San Miguel 5,50 m, e outras pontes do mesmo itinerário apresentavam larguras entre 5,74 m e 6,30 m.

Os engenheiros romanos procuraram sempre traçados com pendentes reduzidas - em torno dos 5-6% - para facilitar o trânsito de pessoas, animais e carros. Esta "tendência à horizontalidade" já foi destacada pelo historiador P. Bernardo de Brito no século XVI, que justificou o nome dado ao caminho de "A Geira" pelas muitas curvas ou giros (girum) que tinha que ir dando "... pera sustentar esta chaneza". Como referiu o P. José de Matos Ferreira, a via era "... muyto suave e facil para os pasageiros e de grande descanso para as cavalgaduras e toda á casta de animais".

No que diz respeito ao tipo de pavimento, a via foi construída a meia encosta, suficientemente afastada dos rios para evitar as cheias. Devido à forte inclinação e à natureza rochosa do terreno, os construtores romanos optaram por uma solução engenhosa: a plataforma original foi construída sobre o terreno com um enchimento de terra sustentado lateralmente por muros de alvenaria ou silharia, reduzindo ao mínimo os desmontes.

Esta técnica permitia também evitar o desmonte das rochas que estavam no traçado, que ficavam alojadas no enchimento. O firme da via seria composto por uma base de seixos e terra, ou um macadame de pedras de quartzo e terra, sobre a qual se estendia uma camada de recobrimento à base de "jabre" ou areia.

Traçado Geral

Saindo de Bracara Augusta pelo lado Nordeste da cidade, por Infias, a Via Nova contornava o sopé do monte Montariol e descia ao Cávado, entre Palmeira e Adaúfe. A travessia do Rio Cávado seria feita por barca, no local de Barca de Ancêde. A estrada continuaria no entorno da margem direita do Cávado até à milha XI, local em que iniciaria a subida da Serra de Bouro. Próximo da milha XIV saía da bacia do vale do Cávado e entrava na do Rio Homem.

A partir da milha XIV e até à milha XXVI, a via seguia a meia-vertente pela encosta poente da montanha.

Na milha XXI, segundo o Itinerário de Antonino, encontrava-se a primeira mansio (Mansio Salaniana). A partir da milha XXVI, a Geira passava pela zona da Veiga de Cubide e continuava pela depressão orográfica até ao Campo do Gerês. Daqui seguia para norte, descia em direção a Vilarinho das Furnas até à milha XXIX, seguindo, a partir deste ponto, pela margem esquerda do Rio Homem até ao ponto em que a ele confluem o Rio de Maceira e o Rio do Forno, na Albergaria.

Neste local surgiram as primeiras obras de arte conhecidas do traçado, as pontes sobre o Rio Maceira e sobre o Rio do Forno, desmontadas por estratégia militar durante a Guerra da Restauração, em 1642. A Geira continuava pela margem esquerda do rio Homem até à milha XXX, depois cruzava o rio pela Ponte de São Miguel, que seria a obra de arte mais imponente da Geira no lado atualmente português. A partir daqui a via seguiria até à Portela do Homem, onde se assinala a milha XXXIV. Por aqui se transpõe o interflúvio da Serra do Gerês para norte, entrando na bacia do Rio Lima.

Da Portela do Homem, a via descia pela vertente norte da Serra do Gerês ao longo da margem direita do Rio Caldo, numa sucessão de ziguezagues que reduzem, substancialmente, o esforço da pendente. Neste percurso teria mais uma ponte sobre a Corga da Fecha, antes de chegar à segunda mansio do Itinerário de Antonino, Aquis Originis, junto aos Baños de Riucaldo, no final da milha XXXVIII.

Aproximando-se do Rio Lima, a Via Nova cruzaria este rio na ponte Pedriña (atualmente submersa pela albufeira da barragem das Conchas) em direção à mansio de Aquis Quarquennis. Continuaria pela margem direita do Rio Lima, passando pela veiga de Antela até à mansio Geminas, junto da milha LXIX, nas proximidades da atual vila de Sandiás.

Os Miliários: Um Tesouro Epigráfico

A importância histórica e patrimonial desta via baseia-se nas importantes singularidades que a realçam sobre outros caminhos conservados da Hispânia. Destaca-se a conservação de um inusual e elevado número de miliários, especialmente no tramo que vai desde a m.p. (milla) XXIX, nas proximidades da localidade portuguesa de Campo do Gerês até a m.p. XXXVIII em Baños de Riocaldo (Espanha), que superam largamente a centena.

Como exemplo, o conjunto de miliários agrupados em 1992 na m.p. XXIX (Volta do Gaviao) reúne 13, na m.p. XXXI (Bico da Geira) estão reunidos 21 miliários, na milla XXXII (Volta do Covo) o número ascende a 22 miliários, etc... e no lado da Galiza e só no tramo estudado se acharam 9 pedras miliárias em A Lama do Picón e em Os Pasteroques, onde se ubicava a m.p. XXXVI, se detetaram 8 miliários.

Os miliários ao longo da Via Nova constituem um excepcional conjunto epigráfico que documenta não só as diferentes fases de construção e manutenção da via, como também serviam como elementos de propaganda imperial, mostrando a presença do poder de Roma mesmo nas regiões mais remotas do Império.

Legado e Preservação

A Via Nova, hoje conhecida como Geira Romana em Portugal e "A Geira" na Galiza, constitui um dos mais valiosos testemunhos da engenharia romana na Península Ibérica. O seu traçado foi classificado como Monumento Nacional em Portugal em maio de 2013 (Decreto 5/2013, de 6 de Maio), e várias intervenções têm sido realizadas para a sua preservação e valorização turística.

Caminhar pela Geira hoje é uma experiência única que nos transporta para o passado romano da Hispânia, permitindo contemplar uma das obras de engenharia mais notáveis do Império Romano, que continua a desafiar o tempo e a contar a história da romanização do noroeste peninsular.

A Via Nova (Via XVIII): Uma Estrada Imperial no Noroeste da Hispânia

A Via XVIII do Itinerário de Antonino, conhecida como Via Nova ou Geira Romana, representa uma das mais impressionantes obras de engenharia civil romana ainda visíveis na Península Ibérica. Esta estrada imperial, que ligava Bracara Augusta (Braga) a Asturica Augusta (Astorga), destaca-se pela excepcional preservação do seu traçado e pela notável quantidade de miliários que ainda hoje marcam o seu percurso.

Fundação e Propósito

A Via Nova foi construída durante a dinastia flaviana, mais precisamente em 80 d.C., sendo inicialmente projetada pelo imperador Vespasiano e concluída pelos seus filhos Tito e Domiciano. O projeto foi executado sob a supervisão de Caio Calpetano Râncio Quirinal Valério Festo, cônsul sufecto do senado romano em 71 e legado imperial no convento bracaraugustano entre 78 e 80 d.C. Este importante aliado de Vespasiano promoveu inúmeras obras públicas e assumiu-se como curator viarum da Via Nova.

A construção da Via Nova deve entender-se num contexto de crescimento económico da região, articulado com a intensificação da exploração do ouro, fundamental à economia do Império. Este novo itinerário surgiu após a pacificação dos territórios hispânicos e a concessão por Vespasiano do estatuto de direito romano a toda a Hispânia, confirmando a atenção dos imperadores flávios pela administração e economia do Noroeste peninsular.

A Via Nova é citada no Itinerário de Antonino como "Item alio itinere a Bracara Asturica" (outro caminho de Braga a Astorga), abrindo um novo trajecto entre Bracara e Asturica Augusta, através do coração da região mineira do Noroeste. Esta via, juntamente com as vias XVI, XVII e XIX, completava o sistema de comunicações terrestres entre os principais centros urbanos da Hispânia romana do noroeste.

Características Construtivas

A Via Nova foi construída com um ancho suficiente para o cruce de dois carros, possuindo, em geral, uma plataforma de 6,00 - 7,00 metros. A largura dos pontes que serviam esta via era ligeiramente menor, mas ainda assim impressionante para a época: a Ponte da Ribeira do Forno tinha 5,40 m, a Ponte San Miguel 5,50 m, e outras pontes do mesmo itinerário apresentavam larguras entre 5,74 m e 6,30 m.

Os engenheiros romanos procuraram sempre traçados com pendentes reduzidas - em torno dos 5-6% - para facilitar o trânsito de pessoas, animais e carros. Esta "tendência à horizontalidade" já foi destacada pelo historiador P. Bernardo de Brito no século XVI, que justificou o nome dado ao caminho de "A Geira" pelas muitas curvas ou giros (girum) que tinha que ir dando "... pera sustentar esta chaneza". Como referiu o P. José de Matos Ferreira, a via era "... muyto suave e facil para os pasageiros e de grande descanso para as cavalgaduras e toda á casta de animais".

No que diz respeito ao tipo de pavimento, a via foi construída a meia encosta, suficientemente afastada dos rios para evitar as cheias. Devido à forte inclinação e à natureza rochosa do terreno, os construtores romanos optaram por uma solução engenhosa: a plataforma original foi construída sobre o terreno com um enchimento de terra sustentado lateralmente por muros de alvenaria ou silharia, reduzindo ao mínimo os desmontes.

Esta técnica permitia também evitar o desmonte das rochas que estavam no traçado, que ficavam alojadas no enchimento. O firme da via seria composto por uma base de seixos e terra, ou um macadame de pedras de quartzo e terra, sobre a qual se estendia uma camada de recobrimento à base de "jabre" ou areia.

Traçado Geral

Saindo de Bracara Augusta pelo lado Nordeste da cidade, por Infias, a Via Nova contornava o sopé do monte Montariol e descia ao Cávado, entre Palmeira e Adaúfe. A travessia do Rio Cávado seria feita por barca, no local de Barca de Ancêde. A estrada continuaria no entorno da margem direita do Cávado até à milha XI, local em que iniciaria a subida da Serra de Bouro. Próximo da milha XIV saía da bacia do vale do Cávado e entrava na do Rio Homem.

A partir da milha XIV e até à milha XXVI, a via seguia a meia-vertente pela encosta poente da montanha.

Na milha XXI, segundo o Itinerário de Antonino, encontrava-se a primeira mansio (Mansio Salaniana). A partir da milha XXVI, a Geira passava pela zona da Veiga de Cubide e continuava pela depressão orográfica até ao Campo do Gerês. Daqui seguia para norte, descia em direção a Vilarinho das Furnas até à milha XXIX, seguindo, a partir deste ponto, pela margem esquerda do Rio Homem até ao ponto em que a ele confluem o Rio de Maceira e o Rio do Forno, na Albergaria.

Neste local surgiram as primeiras obras de arte conhecidas do traçado, as pontes sobre o Rio Maceira e sobre o Rio do Forno, desmontadas por estratégia militar durante a Guerra da Restauração, em 1642. A Geira continuava pela margem esquerda do rio Homem até à milha XXX, depois cruzava o rio pela Ponte de São Miguel, que seria a obra de arte mais imponente da Geira no lado atualmente português. A partir daqui a via seguiria até à Portela do Homem, onde se assinala a milha XXXIV. Por aqui se transpõe o interflúvio da Serra do Gerês para norte, entrando na bacia do Rio Lima.

Da Portela do Homem, a via descia pela vertente norte da Serra do Gerês ao longo da margem direita do Rio Caldo, numa sucessão de ziguezagues que reduzem, substancialmente, o esforço da pendente. Neste percurso teria mais uma ponte sobre a Corga da Fecha, antes de chegar à segunda mansio do Itinerário de Antonino, Aquis Originis, junto aos Baños de Riucaldo, no final da milha XXXVIII.

Aproximando-se do Rio Lima, a Via Nova cruzaria este rio na ponte Pedriña (atualmente submersa pela albufeira da barragem das Conchas) em direção à mansio de Aquis Quarquennis. Continuaria pela margem direita do Rio Lima, passando pela veiga de Antela até à mansio Geminas, junto da milha LXIX, nas proximidades da atual vila de Sandiás.

Os Miliários: Um Tesouro Epigráfico

A importância histórica e patrimonial desta via baseia-se nas importantes singularidades que a realçam sobre outros caminhos conservados da Hispânia. Destaca-se a conservação de um inusual e elevado número de miliários, especialmente no tramo que vai desde a m.p. (milla) XXIX, nas proximidades da localidade portuguesa de Campo do Gerês até a m.p. XXXVIII em Baños de Riocaldo (Espanha), que superam largamente a centena.

Como exemplo, o conjunto de miliários agrupados em 1992 na m.p. XXIX (Volta do Gaviao) reúne 13, na m.p. XXXI (Bico da Geira) estão reunidos 21 miliários, na milla XXXII (Volta do Covo) o número ascende a 22 miliários, etc... e no lado da Galiza e só no tramo estudado se acharam 9 pedras miliárias em A Lama do Picón e em Os Pasteroques, onde se ubicava a m.p. XXXVI, se detetaram 8 miliários.

Os miliários ao longo da Via Nova constituem um excepcional conjunto epigráfico que documenta não só as diferentes fases de construção e manutenção da via, como também serviam como elementos de propaganda imperial, mostrando a presença do poder de Roma mesmo nas regiões mais remotas do Império.

Legado e Preservação

A Via Nova, hoje conhecida como Geira Romana em Portugal e "A Geira" na Galiza, constitui um dos mais valiosos testemunhos da engenharia romana na Península Ibérica. O seu traçado foi classificado como Monumento Nacional em Portugal em maio de 2013 (Decreto 5/2013, de 6 de Maio), e várias intervenções têm sido realizadas para a sua preservação e valorização turística.

Caminhar pela Geira hoje é uma experiência única que nos transporta para o passado romano da Hispânia, permitindo contemplar uma das obras de engenharia mais notáveis do Império Romano, que continua a desafiar o tempo e a contar a história da romanização do noroeste peninsular.

Via Romana XVIII (Geira)

Points of Interest

140

XIV Santa Cruz

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Localização e Contexto

A milha XIV marca um ponto crucial do trajeto da Via Nova, assinalando a entrada da Jeira no Vale do Rio Homem. Inicia-se na Bouça do Padreiro, em Santa Cruz, e vai até Lampaças, um lugar também conhecido como Bico da Geira ou Cantos da Geira.

Extensão e Características

Com 1638 m de extensão, a milha XIV desenvolve-se num plano altimétrico relativamente constante, entre os 440 e os 450 m de altitude. A cerca de 1460 m, a via diverge da estrada municipal, seguindo para Este até Lampaças, onde podemos encontrar a milha XV.

Marcos Miliários

O conjunto de miliários da milha XIV é um dos mais impressionantes de todo o traçado da via. No início da milha podemos observar, sobre a margem direita do caminho, um notável conjunto de sete padrões miliários, que apresentam grande dispersão cronológica. Foram identificados durante as obras de requalificação da estrada municipal em 1981.

A cerca de 452 m de milha, é possível ver, sobre um afloramento rochoso existente na margem direita do caminho, uma cruz, sobre peanha dentada, em alto-relevo, apresentando um estilo formal que remete para o imaginário estilístico do séc. XVIII. Não sendo um ponto de encruzilhada, a presença deste elemento de sacralização, num ponto de domínio visual sobre o Vale do Homem, a poente, poderá estar relacionado com um ponto de paragem associado aos cortejos fúnebres do lugar de Santa Cruz para Igreja de São Mateus da Ribeira.

Os miliários presentes nesta milha são dedicados a:

  • Tito e Domiciano (79-81 d.C.), datado do ano 80
  • Adriano (119 d.C.), reduzido a um fragmento
  • Caracala (198-217 d.C.), datável do ano 214
  • Décio (49-251 d.C.) .), datável do ano 250
  • Magnêncio (350-353 d.C.)

Os dois restantes exemplares são anepígrafos (sem inscrição).

É importante destacar que o miliário dedicado ao Imperador Tito Flávio e ao seu irmão Domiciano apresenta a expressão "VIA NOVA FACTA", sugerindo deste modo a construção da Jeira em 80 d.C., no consulado de Domiciano.

O Caminho e a Paisagem

No decorrer dos primeiros 1160 m do percurso, podemos encontrar eucaliptos e alguns carvalhos, com campos de cultivo, já perto do Ribeiro de Surdeira.

A partir daqui, e até à estrada florestal por onde continuaremos o nosso percurso na Jeira, o arvoredo cede espaço a arbustos que se estendem até uma nova zona de eucaliptos já depois do cruzamento e até à milha XV.

Notas para o caminho

A milha XIV oferece uma experiência de caminhada relativamente confortável, sem grandes variações de altitude, num ambiente que atravessa áreas densamente arborizadas que se transformam em zonas de arbusto.

O ponto de maior interesse nesta milha é, sem dúvida, o conjunto de miliários do início do percurso, que representa um dos mais importantes testemunhos epigráficos da Via Nova. A presença do miliário com a inscrição "VIA NOVA FACTA" é de particular importância histórica, pois indica claramente a data de construção da via.

Ao longo deste trecho, o caminhante poderá também apreciar a excelente conservação do traçado original da via e desfrutar das vistas para o Vale do Homem, especialmente na segunda metade do percurso.

A partir da aldeia de Santa Cruz, a Jeira foi sobreposta pela estrada municipal (EM1265) até ao já referido entroncamento com o caminho florestal aos 1459m de milha.

Já perto do fim do traçado original da milha XIV, é conveniente estarmos atentos aos locais onde esta se separa da EM1265 para Lampaças.

O ponto de maior interesse nesta milha é, sem dúvida, o conjunto de miliários do início do percurso, que representa um dos mais importantes testemunhos epigráficos da Via Nova. A presença do miliário com a inscrição "VIA NOVA FACTA" é de particular importância histórica, pois indica claramente a data de construção da via, sugerindo deste modo a construção da Jeira em 80 d.C., no consulado de Domiciano.

Marcos Miliários

O conjunto de miliários da milha XIV é um dos mais impressionantes de todo o traçado da via. No início da milha podemos observar, sobre a margem direita do caminho, um notável conjunto de sete padrões miliários, que apresentam grande dispersão cronológica. Foram identificados durante as obras de requalificação da estrada municipal em 1981.

A cerca de 452 m de milha, é possível ver, sobre um afloramento rochoso existente na margem direita do caminho, uma cruz, sobre peanha dentada, em alto-relevo, apresentando um estilo formal que remete para o imaginário estilístico do séc. XVIII. Não sendo um ponto de encruzilhada, a presença deste elemento de sacralização, num ponto de domínio visual sobre o Vale do Homem, a poente, poderá estar relacionado com um ponto de paragem associado aos cortejos fúnebres do lugar de Santa Cruz para Igreja de São Mateus da Ribeira.

Os miliários presentes nesta milha são dedicados a:

  • Tito e Domiciano (79-81 d.C.), datado do ano 80
  • Adriano (119 d.C.), reduzido a um fragmento
  • Caracala (198-217 d.C.), datável do ano 214
  • Décio (49-251 d.C.) .), datável do ano 250
  • Magnêncio (350-353 d.C.)

Os dois restantes exemplares são anepígrafos (sem inscrição).

Monument Types

milestones (miliários) AAT: 300006973
150

Lampaças m.p.XV

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Localização e Contexto

À medida que avançamos pelo traçado da Via Nova, chegamos ao local conhecido como Cantos da Geira ou Bico da Geira, situado na freguesia de São João da Balança. Este ponto marca a milha XV do percurso romano, a uma altitude de aproximadamente 430 metros, e representa um dos locais mais interessantes para os mais interessados pela história romana na região.

O relevo é relativamente suave, com a via a ascender gradualmente para 450 metros, demonstrando a habilidade dos engenheiros romanos em projetar caminhos que seguissem as curvas de nível do terreno, minimizando o esforço necessário para percorrê-los.

A partir de Cantos da Geira o percurso toma a direcção leste, que vai manter até à milha XVII, e está bem conservado numa extensão de cerca de 300 metros, oferecendo uma experiência autêntica do traçado romano original.

Existem. no entanto, sinais de degradação, e a partir daí nota-se que o caminho se alarga com a sobreposição de uma estrada de terra batida moderna que acompanha o traçado antigo. Após este trecho, a via retoma suas características originais até o marco seguinte.

Notas para o Caminhante

  • Dedique tempo a examinar os miliários, observando as inscrições e as marcas do tempo
  • Tenha em conta que os próximos 300 metros oferecem a melhor experiência do traçado original
  • Mantenha-se atento aos sinais de rodados romanos na pedra
  • Não deixe de observar o trecho de calçada original
  • Repare na mudança de direção da via, que segue para leste
  • Leve água suficiente, pois este trecho não oferece muitas fontes naturais

Encontram-se aqui dois miliários romanos posicionados no lado esquerdo (norte) da via. A presença destes monumentos foi documentada já no século XVIII pelo Padre Mattos Ferreira, que identificou dois miliários completos e um fragmento. Um destes marcos apresenta uma inscrição dedicada ao imperador Caro (282-283 d.C.), onde ainda é possível distinguir a referência à milha XV. Um com inscrição muito apagada; outro dedicado ao imperador Caro (282-283).

Estudos mais recentes revelaram a existência de outros dois miliários nas proximidades, recolhidos na década de 1980 e transferidos para a Câmara Municipal. Estes eram dedicados aos imperadores Décio (250 d.C.) e Magnêncio (350-353 d.C.), ilustrando a constante manutenção e importância desta via ao longo de mais de um século.

Evidências Arqueológicas

Ao longo deste trecho são visíveis várias marcas da engenharia romana, particularmente a cerca de 1400 metros do inicio da milha, [onde] a via encontra-se parcialmente obstruída por uma derrocada de pedra. São visíveis vários locais com empedramento da superfície, embora não seja clara a cronologia do empedramento.

Este trecho da via apresenta numerosas marcas de rodados, encontradas em diversos pontos ao longo do percurso, bem como trechos com pavimento lajeado, testemunhando o intenso tráfego que esta via suportou durante o período romano e posteriormente.

Monument Types

milestones (miliários) mines (extracting complexes) (complexos mineiros) roads (estradas)

Historical Locations

  • Bracara Augusta
    Certainty: segura Period: Época Romana
160

Teixugos m.p.XVI

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Localização e Contexto

A milha XVI estende-se do Penedo dos Teixugos até um pouco além do Ribeiro de Cabaninhas, percorrendo um trecho que oferece excelentes vistas sobre o Vale do Homem. Este segmento da Via Nova atravessa uma paisagem diversificada, combinando zonas florestais de eucaliptos e pinheiros com bosques de carvalhos nas proximidades de ribeiros.

Com uma extensão de 1632 metros, a milha XVI desenvolve-se num plano altimétrico regular, a meia vertente, acompanhando os recortes montanhosos da serra. Apresenta uma excelente visibilidade sobre o Vale do Homem em quase todo o seu percurso.

A via corre por entre bouças de eucaliptos e pinheiros até à ribeira da Devesa, ponto onde o coberto vegetal surge representado, em grande maioria, por bosques de carvalho. Esta matriz vegetal mantém-se até à milha seguinte.

O Caminho e seus Desafios

Inicialmente, a via corre entre muros, sendo visíveis, em vários pontos, dificuldades na drenagem de águas pluviais e na dispersão de água de pequenos regadios, que acabam por fazer da Jeira o seu canal de escoamento.

É especialmente difícil a travessia no cruzamento com o ribeiro da Devesa, uma vez que a estrada se tornou leito do ribeiro. Logo a seguir é possível ver uma levada de águas de regadio que cai em cascata sobre a Jeira, fazendo canal sobre o caminho durante cerca de 80 m, até ao ponto onde se encontra o guia da água, para o talhão seguinte.

Nos 180 m que antecedem a capela de São Sebastião, a via foi sobreposta por um caminho de acesso a uma propriedade privada. A via foi também ocupada pelo arranjo urbanístico do largo da Capela e pela estrada municipal 535, completando uma sobreposição da Jeira em aproximadamente 145 m, até entroncar de novo no caminho florestal, em direção à Ribeira de Cabaninhas.

A milha corre a meia encosta entre os 445 m e os 450 m de altitude, proporcionando boa visibilidade sobre o Vale do Homem. Depois de cruzar o ribeiro da Devesa, a via segue entre muros até à Capela de São Sebastião, sendo sobreposta por um caminho de acesso a uma moradia particular nos 100 metros que antecedem a chegada à capela. A sobreposição mantém-se nos 200 metros seguintes, onde o traçado coincide com o largo da Capela e com a estrada municipal 535-2.

Notas para o Caminhante

  • A milha XVI apresenta alguns desafios aos caminhantes, principalmente relacionados com a gestão das águas. Em períodos de maior pluviosidade, vários trechos da via podem tornar-se difíceis de percorrer devido ao excesso de água.
  • Aproximadamente a 100 m deste local, a Jeira foi estreitada por uma casa particular, que parece estar devoluta. Aqui o leito do caminho volta a estar bastante degradado, em virtude das águas pluviais que encontram no traçado o melhor canal de escoamento. A passagem de um afluente do Ribeiro de Cabaninhas, seguida à qual encontramos a milha XVII, encontra-se também tomada pelas águas da ribeira em dias de pluviosidade mais intensa, pelos mesmos motivos do caso anterior.
  • Apesar destes desafios, este trecho oferece uma experiência rica em termos paisagísticos e históricos. A transição da vegetação de eucaliptos e pinheiros para bosques de carvalhos proporciona uma interessante diversidade visual, enquanto as vistas sobre o Vale do Homem que se abrem em vários pontos do percurso são verdadeiramente espetaculares.
  • Recomenda-se aos caminhantes que estejam preparados para secções potencialmente molhadas ou lamacentas, especialmente nas proximidades dos cruzamentos com ribeiros e nos trechos em que a via serve de canal de escoamento para águas de regadio.
  • A Capela de São Sebastião, embora não seja uma estrutura de origem romana, constitui um ponto de interesse ao longo deste trecho, oferecendo uma oportunidade para uma breve pausa no caminho.

Marcos Miliários

Para esta milha estão referenciados quatro padrões, embora atualmente se encontre no local apenas um, dedicado a Décio (250 d.C.), desconhecendo-se o paradeiro dos restantes três. Barros Sibelo relata a existência de um padrão dedicado a Caracala (198-217 d.C.), e Mattos Ferreira menciona um miliário ilegível e outro anepígrafo que estaria integrado num muro.

Ao longo deste trecho são visíveis diversos elementos que testemunham a engenharia romana, como marcas de rodados em vários pontos do percurso e segmentos com pavimento lajeado. A presença de pedreiras no lugar da milha sugere a extração local de material para a construção da via e possivelmente dos próprios miliários.

170

Cabaninhas m.p.XVII

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O Vale de Cabaninhas

Localização e Contexto

A milha XVII tem início junto a um regato afluente do Ribeiro de Cabaninhas e desenvolve-se até às Chãs de Vilar. Este trecho da Via Nova atravessa a encosta de Candelo, oferecendo amplas vistas sobre o Vale do Homem à medida que serpenteia pela paisagem montanhosa da Serra do Gerês.

Extensão e Características

Com uma extensão de 1698 metros, a milha XVII desenvolve-se num terreno que alterna entre planos elevados e vales de pequenos cursos de água. O traçado da via revela a habilidade dos engenheiros romanos em manter um percurso relativamente uniforme apesar da topografia acidentada.

A milha XVII desenvolve-se, ao longo de 1698 m, entre o Ribeiro de Cabaninhas e as Chãs de Vilar. No lugar da marcação da milha são visíveis quatro padrões, dedicados distintamente a Caracala (213 d.C.), Heliogábalo (219 d.C.), Décio (250 d.C.) e Caro (283 d.C.).

O percurso da milha desenvolve-se entre muros até ao cruzamento de um outro afluente do ribeiro de Cabaninhas. Seguindo sem grandes variações altimétricas, o percurso da milha foi entalhado a meia-vertente e à medida que nos aproximamos de Saim, oferece uma grande amplitude visual sobre o vale do Homem.

A milha XVII apresenta boas condições de preservação em grande parte do seu traçado, com a via seguindo ampla e relativamente bem conservada até às Chãs de Vilar, onde se encontra a marcação da milha XVIII.

Notas para o Caminhante

  • A milha XVII oferece uma experiência de caminhada variada, alternando entre zonas de densa vegetação arbórea nos talvegues das linhas de água e áreas mais abertas dominadas por matos rasteiros, que proporcionam excelentes vistas panorâmicas sobre o Vale do Homem.
  • O principal desafio deste trecho encontra-se na travessia do afluente do Ribeiro de Cabaninhas, que requer alguma atenção, especialmente em condições de chuva. Após esta travessia, o caminho torna-se mais fácil e agradável.
  • Os quatro miliários no início da milha constituem um ponto de interesse arqueológico excecional, oferecendo uma oportunidade única para observar a evolução da epigrafia romana ao longo de várias décadas e diferentes imperadores.
  • À medida que o caminhante avança para o final da milha, surgem vistas cada vez mais amplas sobre o Vale do Homem, culminando na chegada às Chãs de Vilar, local que, como veremos, tem um significado arqueológico especial.

Marcos Miliários

No início da milha, junto ao regato afluente do Ribeiro de Cabaninhas, encontram-se quatro impressionantes miliários dedicados a diferentes imperadores, cobrindo um período de cerca de 70 anos da história romana:

  • Caracala (213 d.C.)
  • Heliogábalo (219 d.C.)
  • Décio (250 d.C.)
  • Caro (283 d.C.)

A presença destes miliários, de diferentes períodos, demonstra a importância continuada desta via e os esforços de manutenção realizados ao longo dos séculos.

Evidências Arqueológicas

Ao longo deste trecho são visíveis diversos segmentos de pavimento lajeado original, bem como marcas de rodados em vários pontos, testemunhando o intenso tráfego que esta via suportou durante o período romano.

A milha XVII apresenta boas condições de preservação em grande parte do seu traçado, com a via seguindo ampla e relativamente bem conservada até às Chãs de Vilar, onde se encontra a marcação da milha XVIII.

Evidências Arqueológicas

Ao longo deste trecho são visíveis diversos segmentos de pavimento lajeado original, bem como marcas de rodados em vários pontos, testemunhando o intenso tráfego que esta via suportou durante o período romano.

A milha XVII apresenta boas condições de preservação em grande parte do seu traçado, com a via seguindo ampla e relativamente bem conservada até às Chãs de Vilar, onde se encontra a marcação da milha XVIII.

Monument Types

milestones (miliários) AAT: 300006973
180

Chã de Vilar m.p.XVIII

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A Encruzilhada de Salaniana

Localização e Contexto

A milha XVIII começa nas Chãs de Vilar e estende-se até aos Lagedos, num trecho que atravessa um amplo anfiteatro natural, possivelmente associado a um antigo povoado romano. Este segmento da Via Nova reveste-se de particular importância histórica, pois muitos investigadores situam neste local a mansio Salaniana, mencionada no Itinerário de Antonino.

Extensão e Características

Com uma extensão de 1540 metros, a milha XVIII apresenta um perfil que desce ligeiramente até ao talvegue do Ribeiro do Urzal, para depois subir suavemente até à encosta seguinte, onde se encontram os padrões da milha XIX.

A milha desenvolve-se quase exclusivamente sobre um contexto de cobertura arbustivas, composta essencialmente por matos rasteiros, com exceção da área em que atravessa o talvegue do Ribeiro da Fecha, ocupado por um bosque de caducifólias.

O Percurso e seus Desafios

A milha XVIII prossegue em direção ao Ribeiro do Urzal, descendo ligeiramente até ao talvegue da linha de água. A via segue entre muros até à encosta seguinte, onde encontramos os padrões da milha XIX.

A via desce ligeiramente para fazer a travessia do Ribeiro da Fecha onde, mais uma vez, a água do pequeno regato galga por cima da estrada, correndo depois dezenas de metros sobre a superfície, até encontrar o talhão de desvio para o regadio de uma propriedade agrícola à esquerda do caminho.

Esta questão da drenagem representa um desafio significativo para os caminhantes em períodos de maior pluviosidade, pois a via torna-se frequentemente o canal natural de escoamento das águas.

Notas para o Caminhante

A milha XVIII oferece ao caminhante uma experiência rica em termos históricos e arqueológicos. As Chãs de Vilar, no início da milha, constituem um dos locais mais intrigantes de todo o percurso da Via Nova, possivelmente associado à mansio Salaniana.

Ao percorrer este trecho, o visitante deve estar atento às evidências de ocupação antiga visíveis na paisagem, especialmente nas áreas próximas ao caminho onde podem ser observados fragmentos cerâmicos.

A travessia do Ribeiro da Fecha pode apresentar dificuldades em períodos de maior pluviosidade, sendo aconselhável cautela neste ponto. Após a travessia, o caminho segue sem grandes obstáculos até à próxima milha.

A paisagem alterna entre áreas de matos rasteiros e um bosque de caducifólias na zona do ribeiro, proporcionando uma agradável diversidade visual. As vistas sobre o vale, particularmente na primeira parte da milha, são também dignas de nota.

Para os interessados em arqueologia, a possibilidade de estar caminhando na área de uma antiga mansio romana, um local de paragem e descanso para os viajantes há quase dois mil anos, adiciona uma dimensão extra de fascínio a este trecho da Via Nova.

Marcos Miliários

A milha XVIII encontra-se assinalada por dois padrões: um dedicado a Tito e Domiciano (80 d.C.) e outro a Constâncio II (337-361 d.C.). A presença de um miliário do período inicial da construção da via (80 d.C.) e outro de uma época muito posterior (séc. IV) demonstra a importância continuada desta via ao longo de quase três séculos.

O Mistério da Mansio Salaniana

O início da milha XVIII é marcado por um amplo anfiteatro natural, com evidentes microtopografias artificiais, associadas, pela população local às ruínas da aldeia velha de Saim. Lemos et al. (2008) propõe para este local a mansio Salaniana, mencionada no Itinerário de Antonino às 21 milhas, tendo, para validação desta hipótese, realizado uma intervenção arqueológica.

No local, um amplo anfiteatro natural, são visíveis diversas anomalias microtopográficas e ruinas de estruturas em pedra, que a memória locar relaciona com a localização do lugar antigo da aldeia de Saim, ou Saim Velho, e que poderá corresponder ao lugar assinalado nas Inquirições do século XIII. São identificáveis amiúde, nas áreas limítrofes dos caminhos, fragmentos de cerâmicas comuns grosseiras e de cerâmicas laterícias, que parecem apontar para um contexto cronológico mais tardio.

É importante notar que a localização exata da mansio Salaniana continua a ser objeto de debate entre os arqueólogos. Enquanto Lemos et al. propõem a sua localização nas Chãs de Vilar (milha XVIII), o Itinerário de Antonino situa-a na milha XXI, possivelmente nas proximidades da atual aldeia de Saim ou Travaços.

Seria nesta a milha, segundo o Itinerário de Antonino, que se localizaria a Mansio Salaniana. Lemos et al. (2008) sugere que, a ser aqui e não em Chãs de Vilar, a mansio localizar-se-ia na aldeia de Travaços. Carvalho da Silva (1997) sugere o lugar do Pontido, onde identificou uma mancha de de materiais laterícios romanos.

Evidências Arqueológicas

No entanto, exceção feita aos taludes dos caminhos, a restante superfície encontra-se coberta por uma densa manta arbustiva que torna praticamente impossível a deteção de evidências arqueológicas móveis. São ainda visíveis as sondagens arqueológicas realizadas em 2006 por Francisco Sande Lemos e Ricardo Silva.

Monument Types

mansiones (mansiones) AAT: 300120555 milestones (miliários) AAT: 300006973
190

Lagedos m.p.XIX

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O Caminho dos Lagedos

Localização e Contexto

A milha XIX desenvolve-se entre os Lagedos e um sítio junto do Outeiro da Poldriqueira e da Fraga dos Ladrões. Este trecho da Via Nova segue os contornos da Serra do Gerês, oferecendo vistas impressionantes sobre o Vale do Homem enquanto atravessa uma paisagem que alterna entre matos rasteiros e plantações de eucalipto.

Extensão e Características

Com uma extensão de 1637 metros, a milha XIX apresenta um desenvolvimento altimétrico regular, entre 440 e 430m de altitude, em variação suave, acompanhando os recortes montanhosos que conformam o monte do Alto do Falanco.

A milha desenvolve-se na encosta do Outeiro da Poldriqueira, apresentando um contexto vegetal composto essencialmente por matos rasteiros até aos 550m, onde o eucalipto passa a ser a espécie mais proeminente, realidade que se mantém até à milha seguinte.

O Caminho e seus Desafios

Contornando o Outeiro da Poldriqueira, a via segue em campo aberto até aos 550 m, entre bouças dedicadas a viveiros florestais de eucalipto. A partir daqui vai sempre entre terrenos de plantio florestal até cruzar um caminho de serventia a trânsito de equipamento florestal pesado, aos 1195 m.

Entre os 460 m e os 1195 m, aproximadamente, a via romana é serventia de viveiros florestais, com plantio de eucalipto, tendo sido, neste percurso, alargada e regularizada para o efeito. Aos 1195 m, cruza com um caminho florestal que tem origem em Moimenta-a-Nova, por onde é frequente o trânsito de equipamento pesado de produção florestal.

Depois, até à milha seguinte, prossegue por um caminho mais apertado, entre muros bastante degradados, sendo frequente encontrarem-se pequenas derrocadas pelo caminho.

Preservação e Intervenções

Este trecho da Via Nova evidencia os desafios de preservação deste importante património arqueológico face à pressão da atividade florestal moderna. A utilização de parte do traçado original como serventia para viveiros de eucalipto resultou em alterações significativas à estrutura da via, embora o traçado geral tenha sido mantido.

As derrocadas nos muros que delimitam o caminho na parte final da milha são testemunho da falta de manutenção contínua, um problema comum em muitos trechos da Via Nova.

Evidências Arqueológicas

Ao longo deste trecho são visíveis diversas marcas de rodados e segmentos de pavimento lajeado, particularmente bem preservados em vários pontos. Estas evidências permitem aos visitantes compreender como seria a utilização original desta via pelos veículos romanos.

Notas para o Caminhante

  • A milha XIX oferece aos caminhantes uma experiência que combina interesse histórico-arqueológico com uma paisagem em transformação. O contraste entre as áreas de matos rasteiros no início da milha e as plantações de eucalipto na segunda metade proporciona uma interessante perspectiva sobre as mudanças na utilização do território ao longo dos séculos.
  • Os miliários no início do percurso constituem um ponto de interesse importante, especialmente o dedicado a Tito e Domiciano, que data da época de construção original da via.
  • O cruzamento com o caminho florestal aproximadamente a meio da milha requer atenção, especialmente se houver movimento de maquinaria pesada relacionada com a atividade florestal.
  • Na parte final da milha, é aconselhável cautela devido às pequenas derrocadas que podem ser encontradas no caminho. Estas não impedem a passagem, mas requerem alguma atenção.
  • Apesar das alterações modernas, este trecho da Via Nova permite ao visitante compreender como a engenharia romana adaptou-se magistralmente à topografia do terreno, criando um percurso que, mesmo depois de quase dois mil anos, continua a servir como via de comunicação, ainda que com fins diferentes dos originais.

Marcos Miliários

No início da milha, nos Lagedos, podemos observar a presença de dois padrões, um deles dedicado a Tito e Domiciano (80 d.C.) e outro a Caracala (213 d.C.); este encontra-se tombado e fraturado sobre a margem direita da via, no sentido Braga – Astorga.

São associados a esta milha mais três padrões, dois referenciados por Amaro Carvalho da Silva e outro pelo Padre Matos Ferreira. Dos primeiros, um encontra-se depositado no Museu da Jeira e o outro serve de suporte a uma varanda da antiga casa paroquial. O terceiro, referido pelo Padre Mattos Ferreira, encontra-se em paradeiro desconhecido.

Evidências Arqueológicas

Ao longo deste trecho são visíveis diversas marcas de rodados e segmentos de pavimento lajeado, particularmente bem preservados em vários pontos. Estas evidências permitem aos visitantes compreender como seria a utilização original desta via pelos veículos romanos.

Monument Types

milestones (miliários) AAT: 300006973
200

Podrigueiras m.p.XX

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A Fraga dos Ladrões e o Vale de Travaços

Localização e Contexto

A milha XX desenvolve-se entre a Poldriqueira, ou Fraga dos Ladrões, e o lugar de Travaços. Este segmento da Via Nova, que continua o seu percurso por terrenos de forte declive lateral, apresenta alguns dos melhores exemplos de calçada romana ainda existentes ao longo do trajeto da Geira.

Extensão e Características

Com uma extensão de 1650 metros, a milha XX contorna os talvegues de vários ribeiros que dão forma a esta encosta bastante recortada, mantendo, nesta milha com aproximadamente 1650 m, um traçado topograficamente regular, com pouca variação altimétrica.

A milha XX apresenta um contexto paisagístico alternado entre zonas compostas essencialmente por espécies arbustivas e áreas densamente ocupadas com espécies arbóreas caducifólias.

Aos 1300 m de milha, a via foi cortada pela estrada municipal que liga Travaços a Vilar, obra realizada na segunda metade do séc. XX.

Esta presença de segmentos bem preservados de calçada original é particularmente significativa, pois permite aos visitantes observar diretamente as técnicas de engenharia romana usadas para resolver problemas específicos, como a drenagem em áreas de elevada saturação de água no solo.

O Percurso e seus Desafios

A milha XX segue entre muros que em muitos locais se percebe terem subtraído espaço à via, onde, e apesar das limpezas anuais, amiúde crescem matos altos que dificultam sobremaneira a passagem. A milha acompanha, em perfil altimétrico regular, os recortes do Outeiro da Poldriqueira, cruzando o Ribeiro da Pala da Porca e um outro aquífero por onde escorrem as águas da encosta.

Esta linha de água é passada a vau sobre calçada, que persiste num troço de aproximadamente 30 m. A cerca de 1320m, a Jeira foi cortada pela estrada que liga Travaços a Vilar, retomando o seu traçado imediatamente a seguir. Segue aqui entre muros, num trajeto perturbado apenas pelas águas de regadio comunitário que, aqui, usam novamente a Jeira para estabelecer o seu canal de encaminhamento.

Notas para o Caminhante

  • A milha XX oferece aos visitantes uma oportunidade excepcional para observar uma das melhores secções de calçada romana original ao longo de todo o percurso da Via Nova. Os trechos de calçada após a travessia do Ribeiro da Pala da Porca e na travessia da linha de água seguinte são particularmente impressionantes e ilustrativos das técnicas de engenharia romana.
  • O corte da via pela estrada municipal cerca de dois terços após o início da milha requer atenção durante a travessia. Após este ponto, o caminho retoma o seu traçado original entre muros.
  • Em períodos de irrigação, partes da via podem ser utilizadas como canais de água para os campos agrícolas adjacentes, o que pode dificultar o trânsito. É aconselhável cautela nestas secções.
  • Os miliários no início da milha constituem pontos de interesse importantes, particularmente o dedicado ao imperador Adriano, que data do século II d.C.
  • À medida que o caminhante se aproxima do final da milha XX e do início da milha XXI, está também se aproximando da possível localização da mansio Salaniana, um dos pontos de paragem e descanso mencionados no Itinerário de Antonino. Embora a localização exata da mansio continue a ser objeto de debate entre os arqueólogos, este contexto histórico adiciona uma camada extra de interesse a este trecho da via.
  • A paisagem alterna entre zonas dominadas por espécies arbustivas e áreas com densa cobertura de árvores caducifólias, proporcionando uma experiência visual variada ao longo do percurso.

Marcos Miliários

No início da milha está assinalado por dois padrões, um dedicado a Adriano (117-139 d.C.) e outro a Carino (283-285 d.C.). Estes miliários, separados por mais de 160 anos, demonstram a continuidade no uso e manutenção da via ao longo de diferentes dinastias imperiais romanas.

Calçada Romana e Obras de Engenharia

Existe aqui um dos melhores exemplos de calçada ainda existente ao longo do percurso, depois de cruzar o Ribeiro da Pala da Porca e no cruzamento da linha de água seguinte. A calçada encontra razão na elevada saturação dos solos na envolvente das travessias e prolonga-se por cerca de 20 m no primeiro caso e 30 no segundo.

Aos 1300 m de milha, a via foi cortada pela estrada municipal que liga Travaços a Vilar, obra realizada na segunda metade do séc. XX.

Esta presença de segmentos bem preservados de calçada original é particularmente significativa, pois permite aos visitantes observar diretamente as técnicas de engenharia romana usadas para resolver problemas específicos, como a drenagem em áreas de elevada saturação de água no solo.

A Milha XX e a Mansio Salaniana

A milha XX tem uma importância histórica adicional devido à sua proximidade com a possível localização da mansio Salaniana. Segundo algumas interpretações do Itinerário de Antonino, esta estação de paragem da via estaria situada na milha XXI, logo após o final deste trecho.

Seria nesta a milha, segundo o Itinerário de Antonino, que se localizaria a Mansio Salaniana. Lemos et al. (2008) sugere que, a ser aqui e não em Chãs de Vilar, a mansio localizar-se-ia na aldeia de Travaços. Carvalho da Silva (1997) sugere o lugar do Pontido, onde identificou uma mancha de materiais laterícios romanos.

Monument Types

milestones (miliários) AAT: 300006973 roads (estradas) AAT: 300008217 mansiones (mansiones) AAT: 300120555
210

Pontelha m.p.XXI

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O Mistério de Salaniana

Localização e Contexto

A milha XXI desenvolve-se entre o lugar de Travaços e a Ervosa, atravessando um trecho histórico de excepcional importância, pois seria nesta milha, segundo o Itinerário de Antonino, que se localizaria a mansio Salaniana, a primeira estação de paragem oficial da Via Nova depois de Bracara Augusta.

Extensão e Características

Com uma extensão de 1682 metros, a milha XXI tem início junto da travessia do Ribeiro das Cales, na Pontelha da Geira, e segue um plano altimétrico estável, entre os 440 e os 470 m de altitude.

A cobertura vegetal da envolvente é predominantemente arbórea, composta por espécies caducifólias e espécies invasoras, como eucalipto e austrália.

Notas para o Caminhante

  • A milha XXI oferece aos visitantes uma experiência rica em história e arqueologia. O fato de estar caminhando por um trecho onde possivelmente se localizava uma das mansiones oficiais da Via Nova adiciona uma camada extra de significado histórico à experiência.
  • A travessia do Ribeiro das Cales no início da milha, na Pontelha da Geira, pode apresentar alguma dificuldade em períodos de maior pluviosidade, sendo aconselhável cautela. O pequeno troço lajeado após a travessia proporciona uma oportunidade para observar diretamente as técnicas construtivas romanas.
  • Os miliários no início da milha constituem pontos de interesse importantes, particularmente o dedicado a Heliogábalo, que data do início do século III d.C.
  • Para os interessados em arqueologia, vale a pena estar atento a eventuais vestígios de materiais de construção romana na área do lugar do Pontido, que poderia estar associado à localização da mansio Salaniana.
  • A paisagem predominantemente arbórea que envolve este trecho da via proporciona uma experiência agradável de imersão na natureza, com o valor adicional de estar percorrendo um caminho com quase dois mil anos de história.
  • Ao caminhar por esta milha, o visitante está literalmente seguindo os passos de incontáveis viajantes romanos que, ao longo de séculos, utilizaram esta via e possivelmente pernoitaram na mansio Salaniana, antes de continuar a sua jornada para Asturica Augusta ou de regresso a Bracara Augusta.

Marcos Miliários

No início da milha, na Pontelha da Geira, podemos ver atualmente dois padrões: um dedicado a Heliogábalo (219 d.C.) e outro, fraturado, dedicado a Caro (283 d.C).

O Enigma da Mansio Salaniana

Seria nesta a milha, segundo o Itinerário de Antonino, que se localizaria a Mansio Salaniana. Lemos et al. (2008) sugere que, a ser aqui e não em Chãs de Vilar, a mansio localizar-se-ia na aldeia de Travaços. Carvalho da Silva (1997) sugere o lugar do Pontido, onde identificou uma mancha de materiais laterícios romanos.

O debate sobre a localização exata da mansio Salaniana continua em aberto entre os arqueólogos. Enquanto algumas interpretações a situam na milha XVIII (Chãs de Vilar), o Itinerário de Antonino a coloca inequivocamente na milha XXI, o que corresponde a este trecho da via.

As mansiones eram estruturas oficiais de apoio ao cursus publicus (o sistema de correios imperial) e ao mesmo tempo serviam como pontos de paragem e descanso para viajantes comuns. A descoberta de materiais de construção romanos (laterícios) no lugar do Pontido reforça a hipótese de Carvalho da Silva sobre a localização da mansio nesta área.

Engenharia e Técnicas Construtivas

Depois da travessia do ribeiro, a via apresenta um pequeno troço lajeado, seguindo um plano altimétrico estável. A presença deste lajeamento demonstra as técnicas utilizadas pelos engenheiros romanos para estabilizar a via em zonas de maior humidade ou desgaste.

A milha XXI segue pela encosta do Espigão, acompanhando, em pendente suave, os recortes montanhosos do percurso. Logo no início da milha atravessa uma pequena linha de água tributária da Ribeira das Cales, onde se verifica a existência de águas de acumulação por falta de capacidade de escoamento ou por este provavelmente se encontrar entupido.

Evidências Arqueológicas

Ao longo deste trecho são visíveis várias marcas de rodados e segmentos de pavimento lajeado, especialmente após a travessia do Ribeiro das Cales. Estas evidências são testemunho do intenso tráfego que esta via suportou durante o período romano.

A presença de uma pedreira no início da milha sugere a extração local de material para a construção da via e possivelmente dos próprios miliários.

Monument Types

mansiones (mansiones) AAT: 300120555 milestones (miliários) AAT: 300006973
220

Ervosa m.p.XXII

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A Descida de Ervosa

Localização e Contexto

A milha XXII desenvolve-se entre a Ervosa e os Esporões, marcando o início de um trecho mais desafiante da Via Nova, onde a via começa a descer gradualmente em direção à veiga de Cubide. Durante este percurso, o caminhante encontrará algumas das melhores evidências do engenho romano na construção viária, especialmente nas zonas de travessia de pequenos cursos de água.

Extensão e Características

Com uma extensão de 1660 metros, a milha XXII apresenta um perfil de elevação que oscila entre os 470 m e os 500 m de altitude, apresentando, em alguns casos, variações na pendente mais acentuadas, especialmente nas travessias de pequenos cursos de água, onde, a miúde, se verifica o lajeamento da superfície.

A cobertura vegetal da envolvente é predominantemente arbórea, composta por espécies caducifólias e espécies invasoras, como eucalipto e austrália.

Estado de Conservação

A milha XXII marca o início da descida para a veiga de Cubide. Esta milha apresenta um perfil altimétrico mais irregular que as antecedentes. Apresenta várias zonas com calçada e várias áreas onde os solos se apresentam saturados de água, fruto, possivelmente, da má manutenção do sistema de regadio.

A via encontra-se bastante degradada neste troço, apresentando, em várias partes do traçado, desgaste muito abaixo do que teria sido a cota de circulação da estrada romana.

Nos cerca de 1660 m em que esta milha se desenvolve, a via encontra-se bastante degradada, apresentando, em vários trechos do traçado, desgaste muito abaixo do que teria sido a cota de circulação original da estrada romana.

Técnicas Construtivas Romanas

Este trecho da Via Nova é particularmente interessante para observar as técnicas utilizadas pelos engenheiros romanos para resolver problemas específicos relacionados com a estabilidade da via e a drenagem de águas.

A presença de vários trechos de calçada nas zonas de travessia de linhas de água demonstra como os romanos reforçavam o pavimento da via nas áreas mais vulneráveis à erosão. Estas soluções técnicas, algumas das quais ainda visíveis depois de quase dois mil anos, são testemunho da perícia dos construtores romanos.

Notas para o Caminhante

  • A milha XXII apresenta alguns desafios para o caminhante moderno, principalmente devido ao estado de degradação de partes do traçado e à presença de áreas com solos saturados de água. Recomenda-se cautela, especialmente em períodos de maior pluviosidade.
  • No entanto, estes desafios são compensados pelo interesse histórico e arqueológico deste trecho. As várias zonas com calçada original oferecem uma oportunidade única para observar diretamente as técnicas construtivas romanas e compreender como foi possível construir uma via que, apesar de todas as adversidades, continua a ser reconhecível depois de quase dois milénios.
  • Os miliários no início da milha, em Ervosa, constituem pontos de interesse importantes, especialmente o dedicado a Carino, que data do final do século III d.C.
  • A paisagem predominantemente arbórea que envolve este trecho da via proporciona uma experiência de imersão na natureza, com o valor adicional do contexto histórico excepcional.
  • À medida que o caminhante avança pela milha XXII, vai progressivamente descendo para a veiga de Cubide, uma área que representará um contraste significativo com os trechos montanhosos anteriores da Via Nova. Esta transição paisagística é, em si mesma, um aspecto interessante da experiência de caminhar neste trecho da antiga estrada romana.

Marcos Miliários

A milha XXII tem início no lugar de Ervosa, onde se encontram dois padrões: um dedicado a Carino (283-285 d.C.) e outro atualmente ilegível

Técnicas Construtivas Romanas

Este trecho da Via Nova é particularmente interessante para observar as técnicas utilizadas pelos engenheiros romanos para resolver problemas específicos relacionados com a estabilidade da via e a drenagem de águas.

A presença de vários trechos de calçada nas zonas de travessia de linhas de água demonstra como os romanos reforçavam o pavimento da via nas áreas mais vulneráveis à erosão. Estas soluções técnicas, algumas das quais ainda visíveis depois de quase dois mil anos, são testemunho da perícia dos construtores romanos.

Evidências Arqueológicas

Ao longo deste trecho são visíveis numerosas marcas de rodados e segmentos de pavimento lajeado, particularmente nas zonas de travessia de linhas de água. Estas evidências permitem reconstituir a utilização original da via por carruagens e outros veículos durante o período romano.

A presença de uma pedreira no lugar da milha sugere a extração local de material para a construção e manutenção da via.

Monument Types

milestones (miliários) AAT: 300006973
230

Esporões m.p.XXIII

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O Desafio da Quebrada

Localização e Contexto

A milha XXIII desenvolve-se entre os Esporões e Souto de Paredes, do lugar de Cabaninhas. Este trecho da Via Nova apresenta alguns dos desafios mais significativos para o caminhante moderno, incluindo uma famosa derrocada histórica que criou uma ruptura estrutural na Jeira nunca totalmente resolvida.

Extensão e Características

Com uma extensão de 1668 metros, a milha XXIII marca o início da descida da Jeira para a veiga de Cubide e é, de todas as que observámos até este ponto, aquela que apresenta maiores dificuldades à circulação. Para além de circuitos em pendentes acentuadas, pouco comuns na planificação viária romana, existe uma extensa área da milha cujo traçado se encontra perdido.

A Jeira é envolvida em quase toda a extensão da milha por bouças com eucaliptal.

A "Quebrada" de Souto de Paredes

Sensivelmente a 1350m do início da milha, o traçado foi obliterado pela chamada Quebrada de Souto de Paredes, uma derrocada que terá acontecido, pelo menos, no séc. XIX, e que, do ponto de vista estrutural, criou uma rutura na Jeira que nunca foi resolvida.

Segundo informações locais, numa tentativa de melhorar o acesso, o município de Terras de Bouro tentou, em anos recentes, repor o acesso através da decapagem mecânica deste troço, mas a movimentação de terras realizada acabou por desestabilizar ainda mais os taludes. Considera-se ser urgente uma intervenção preventiva no local, através de um plano geotécnico de estabilização dos solos, ou, em alternativa, interditando o trânsito nas zonas mais perigosas. Depois da área da quebrada, reencontra-se o traçado da Jeira, que segue, agora sem dificuldades, até à milha seguinte.

Transformações Modernas

Aos 390 m, a milha XXIII é cortada pela estada municipal 535 e, a partir daqui, o traçado atualmente marcado é a representação do trilho possível até aos 1600 m. Com efeito, Depois do corte da EM 535, o traçado segue por um caminho de pé posto bastante degradado, paralelo a um eucaliptal, durante cerca de 225m, momento em que encontra uma descida abrupta que nos conduz a um parque de merendas, paralelo à EN 307, que evoca a via romana.

A EN 307 cortou então, também ela, a milha XXIII e é preciso atravessá-la para retomar o trilho, que volta a encontrar uma descida acentuada, até entroncar no caminho de serventia de uma bouça de eucalipto.

O trilho segue por entre socalcos, que a determinado momento terão absorvido a Jeira, encontrando-se aqui bastante degradada e reduzida, em muitas partes, novamente a um caminho de pé posto.

Riscos Atuais

A passagem em toda a zona da quebrada representa um risco sério à integridade física dos visitantes da Jeira. A tentativa do município, em anos recentes, de desentulhar o caminho afetado por decapagem mecânica, acabou por resultar infrutífera, pois os taludes desestabilizaram novamente, encontrando-se atualmente muito fragilizados.

Notas para o Caminhante

  • A milha XXIII representa, sem dúvida, o maior desafio para o caminhante moderno em todo o traçado português da Via Nova. Se o visitante optar por percorrer este trecho, é essencial extrema cautela na zona da Quebrada de Souto de Paredes, sendo inclusive recomendável considerar rotas alternativas para contornar este ponto específico.
  • As múltiplas interrupções da via original por estradas modernas (EM 535 e EN 307) também tornam este trecho mais complexo de navegar. É importante estar atento a estes cruzamentos e às indicações que permitem retomar o traçado original após cada interrupção.
  • Apesar destes desafios, a milha XXIII oferece uma perspectiva única sobre os processos de transformação e degradação de uma via romana ao longo dos séculos, sendo por isso de grande interesse para os entusiastas da arqueologia e da história das vias de comunicação antigas.
  • Os miliários no início da milha, em Esporões, constituem pontos de interesse importantes, particularmente o dedicado a Juliano, que data da segunda metade do século IV d.C., já no período final do Império Romano no Ocidente.
  • A paisagem dominada por eucaliptais que caracteriza grande parte deste trecho é um testemunho das transformações modernas na utilização do território, contrastando com o que teria sido a cobertura vegetal original no período romano.
  • Para os visitantes que procuram uma experiência mais segura e tranquila, pode ser aconselhável obter informações locais atualizadas sobre o estado do percurso, particularmente na zona da Quebrada, antes de aventurar-se neste trecho da Via Nova.
240

Cabaninhas m.p.XXIV

•••

O Caminho para Sá

Localização e Contexto

A milha XXIV desenvolve-se entre o lugar de Cabaninhas e o lugar de Sá, atravessando um território que marca a transição para a veiga de Cubide. Este trecho da Via Nova segue pela vertente direita do Ribeiro do Campo, proporcionando aos caminhantes uma experiência única da paisagem rural do Gerês, entre campos agrícolas e zonas florestadas.

Extensão e Características

Com uma extensão de 1566 metros, a milha XXIV apresenta, igualmente, questões quanto ao seu traçado. Se o trilho classificado segue, praticamente sempre, sobreposto à estrada nacional, ou imediatamente paralelo a ela, até ao cruzamento da Guarda, atravessando assim toda a veiga do Campo do Gerês, as propostas dadas pela investigação a respeito do tema são mais divergentes.

A milha desenvolve-se ao longo de 1566 m, entre o lugar de Cabaninhas e Sá, num percurso com um traçado regular, pese embora se verifique uma subida dos 450m para os 520 m de altitude entre os limites de milha.

A milha desenvolve-se sobre a vertente direita do Ribeiro do Campo, acompanhando os encaixes das linhas de água que drenam as encostas da serra para o rio, sendo vários os vestígios de lajeamento da superfície das zonas de maior saturação dos solos.

A via segue paralela aos campos de Sá, mantendo-se na sua bordadura até esse lugar, junto ao qual encontramos a marcação da milha seguinte.

Paisagem e Técnicas Construtivas

A via segue na bordadura de campos agrícolas e o coberto arbóreo da vertente. A milha XXIV segue pelo início da veiga de Cubide, pela margem esquerda da Ribeira da Roda, em boa parte ladeado por bouças de eucaliptal.

O trajeto faz-se com bastantes dificuldades nos dias com maior índice de pluviosidade, já que o trilho se encontra, em parte considerável, ocupado por regatos de águas perdidas que, em momentos de maior incidência de chuva tornam a via quase intransitável, especialmente nas áreas adestras às linhas de água existentes ao longo do percurso.

Já nas imediações do lugar de Sá, o eucaliptal dá lugar a carvalhal e a socalcos com sistemas de regadio tipo "prados de lima". Junto das primeiras casas do lugar de Sá, a via segue entre os muros de suporte das habitações, sobre um piso que se transforma em lodaçal em épocas mais húmidas. A partir daqui a via segue sobreposta pela EN 307 até cruzeiro de Sá, que marca o início da milha seguinte.

Os vestígios de lajeamento nas zonas de maior saturação dos solos, visíveis em vários pontos deste trecho, demonstram as técnicas utilizadas pelos engenheiros romanos para estabilizar a via em áreas problemáticas.

Desafios para o Caminhante

O principal desafio deste trecho está relacionado com a gestão das águas, especialmente em períodos de maior pluviosidade. O fato de partes do traçado serem utilizadas como canais de drenagem ou estarem sujeitas a inundação pode tornar o percurso difícil em determinadas condições climáticas.

Nas proximidades do lugar de Sá, onde a via passa entre muros de suporte de habitações, o solo pode transformar-se em lodaçal em épocas húmidas, representando um desafio adicional para o caminhante.

Notas para o Caminhante

  • A milha XXIV oferece uma experiência rica em termos de paisagem, com a transição de zonas de eucaliptal para áreas de carvalhal e campos agrícolas à medida que o percurso se aproxima do lugar de Sá. A presença de "prados de lima", um sistema tradicional de irrigação que remonta possivelmente ao período medieval, adiciona interesse etnográfico ao percurso.
  • Recomenda-se cautela em períodos de maior pluviosidade, especialmente nas zonas próximas a linhas de água e no trecho final que atravessa o lugar de Sá. Calçado impermeável é aconselhável para enfrentar os possíveis lodaçais que se formam ao longo do caminho.
  • Os vestígios de lajeamento original da via, visíveis em vários pontos, constituem elementos de interesse arqueológico, demonstrando as técnicas construtivas utilizadas pelos romanos para enfrentar os desafios específicos deste terreno.
  • A partir do lugar de Sá, é importante notar que a via original encontra-se sobreposta pela EN 307, sendo necessário caminhar pela berma desta estrada até ao cruzeiro de Sá, que marca o início da milha XXV. Atenção redobrada é necessária neste trecho devido ao tráfego rodoviário.
  • Apesar dos desafios, este segmento da Via Nova proporciona uma experiência autêntica da paisagem rural do Gerês, combinando elementos naturais, arqueológicos e etnográficos que enriquecem a jornada do caminhante.

Marcos Miliários

Para esta milha são conhecidos vários miliários, embora nem todos se encontrem no local original. São referenciados um miliário dedicado a Maximino e Máximo (238 d.C.) e outro a Licínio (308-324 d.C.), além de referências a mais dois miliários em paradeiro desconhecido.

Monument Types

milestones (miliários) AAT: 300006973 milestones (miliários) AAT: 300006973
250

Sá m.p.XXV

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A Travessia da Veiga de Cubide

Localização e Contexto

A milha XXV desenvolve-se entre o lugar de Sá e o lugar das Várzeas, atravessando a ampla veiga de Cubide. Este trecho da Via Nova representa um desafio singular para os arqueólogos e caminhantes, pois o seu traçado exato foi em grande parte obliterado pelas transformações históricas da paisagem agrária.

Extensão e Características

Estima-se que esta milha tenha aproximadamente 1480 metros de extensão. No entanto, o traçado preciso é difícil de determinar devido à modelação orgânica da paisagem agrária da veiga de Cubide, que contribuiu para que, nesta povoação, se perdesse a referência do local de passagem da Jeira.

Transformação da Paisagem

A milha XXV é um excelente exemplo de como as transformações agrícolas ao longo dos séculos podem obliterar completamente o traçado de uma via romana. A intensa utilização agrícola da veiga de Cubide, com a criação de campos, sistemas de irrigação e caminhos rurais, levou ao desaparecimento quase total dos vestígios visíveis da Via Nova neste trecho.

Esta situação contrasta marcadamente com os trechos da via que atravessam terrenos montanhosos ou florestados, onde o traçado original é frequentemente bem preservado.

Notas para o Caminhante

  • A milha XXV representa um desafio para o caminhante que procura seguir rigorosamente o traçado original da Via Nova. Dada a incerteza sobre o percurso exato da via através da veiga de Cubide, o visitante terá que confiar em grande medida nas indicações do traçado classificado e na sinalização disponível no terreno.
  • O início da milha é claramente marcado pelo padrão-cruzeiro dedicado a Décio, que se encontra abaixo da EN 307. Este ponto, facilmente identificável, serve como referência para iniciar o percurso através da veiga.
  • A travessia da veiga de Cubide oferece ao visitante uma experiência paisagística distinta dos trechos anteriores da Via Nova. Em vez das encostas montanhosas e áreas florestadas, o caminhante encontra aqui um vale amplo com campos agrícolas que constituem um exemplo bem preservado da paisagem rural tradicional do Gerês.
  • A existência de um segundo miliário dedicado a Décio na rua da Carreira, em Cubide, utilizado como suporte do telheiro de uma casa particular, constitui um ponto de interesse adicional que ilustra como os elementos da via romana foram por vezes reutilizados pelas populações locais ao longo dos séculos.
  • Ao final da milha, o traçado classificado sai da veiga pelo Portelo Alto, onde atravessa a EN 307. Esta travessia requer atenção devido ao tráfego rodoviário. Após cruzar a estrada nacional, a via desce ligeiramente ao longo de aproximadamente 370 metros, mantendo-se sobre a margem direita de uma pequena linha de água, até chegar ao ponto que marca o início da milha XXVI.
  • Apesar da incerteza sobre o traçado exato, a milha XXV proporciona uma oportunidade única para refletir sobre as transformações históricas da paisagem e sobre como a ocupação humana contínua pode modificar profundamente o território ao longo dos séculos.

Marcos Miliários

O início da milha está assinalado por um padrão dedicado a Décio, que foi colocado em posição invertida para receber uma cruz em granito, que atualmente se vê a encimar o monumento. Recentemente o padrão foi reposto em posição corrigida, mantendo a sua função de cruzeiro. Este padrão-cruzeiro encontra-se abaixo da EN 307, num pequeno largo por onde deriva a estrada que vem do lugar de Sá.

Dentro da aldeia de Cubide, na rua da Carreira, está outro padrão, dedicado também a Décio (250 d.C.), a sustentar o telheiro duma casa particular. Este padrão terá vindo da milha XXVI, segundo interpretação de Rodríguez Colmenero, Ferrer Sierra, & Álvarez Asorey (2004, p. 441).

O Debate sobre o Traçado

A milha XXV, no traçado que atualmente se encontra classificado, cruza a Veiga de Cubide pelo lado Norte do Outeiro da Lameira, atravessando a EN-307 na direção do lugar de Várzeas. Uma outra hipótese, avançada por Fernando Cosme, sugere que a via seguiria entre a zona de Campo da Santa e Antr'os Outeiros, seguindo depois na mesma direção que a anterior.

Pese embora as várias opções, não foram identificados ainda vestígios conclusivos do local da sua passagem em nenhuma das intervenções arqueológicas realizadas, sendo percetível que a modelação orgânica da paisagem agrária da veiga de Cubide terá contribuído para que, nesta povoação, se perdesse a referência do local de passagem da Jeira.

Sobre a passagem da via em Cubide, são vários os argumentos que defendem as duas propostas mais comuns, podendo ver-se, a este respeito, Lemos et al., 2008, pp 195-197. O traçado classificado cruza a Veiga de Cima, pelos campos a norte da Capela de Santa Eufémia, deriva para nordeste, passa pela Leira d'Antr'os Outeiros e vai sair da veiga pelo Portelo Alto, onde atravessa a EN 307. Depois do cruzamento a via desce ligeiramente ao longo de 370 m, mantendo-se sobre a margem direita de uma pequena linha de água, tributária do ribeiro de Freitas, onde se encontra a marcação da milha seguinte.

260

Jeirinha m.p.XXVI

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Entre Vales e Montanhas

Localização e Contexto

A milha XXVI desenvolve-se entre o Outeiro da Jeirinha e a Revolta da Sobreira, atravessando uma garganta natural que estabelece a ligação entre o vale de Cubide e o Campo do Gerês. Este trecho da Via Nova apresenta desafios tanto para os arqueólogos, devido às diferentes interpretações sobre seu traçado exato, quanto para os caminhantes, devido às características topográficas do terreno.

Extensão e Características

Com uma extensão de 1545 metros, a milha XXVI desenvolve-se pela garganta natural que existe na ligação entre o vale de Cubide e o Campo do Gerês. Até ao fundo do vale é ladeado por um coberto vegetal eminentemente arbóreo. Daí e até à milha seguinte domina a cobertura arbustiva.

O traçado atualmente classificado encaminha a milha até uma pequena linha de água existente no fundo do plano, que atravessa. Volta a subir, de forma abrupta, pelos Seixos Brancos até à Estrada Nacional, que sobrepõe o traçado em quase toda a extensão remanescente.

Características Topográficas

A milha XXVI apresenta desafios topográficos significativos, especialmente na subida pelos Seixos Brancos, que parece inconsistente com os princípios de engenharia viária romana, que tipicamente buscavam pendentes suaves e evitavam subidas abruptas.

Aos 250 m a milha XXVI cruza uma pequena linha de água inicial do Rio de Freitas, seguindo ao cimo de um pequeno outeiro, onde se encontra um penedo marcado com várias covinhas, local onde inflete para poente, segundo o percurso classificado, atravessando uns campos lameiros e subindo, de forma bastante acentuada, até aos Seixos Brancos. Aí entronca na estada nacional, que a sobrepõe até ao 1350, seguindo por uma estreita portela, a poente, onde o caminho se encontra completamente degradado. Este caminho conduz novamente à estrada nacional, na qual o percurso volta a entroncar desde os 1500 m até à milha seguinte.

Notas para o Caminhante

A milha XXVI apresenta alguns desafios para o caminhante atual, principalmente devido às características topográficas do terreno e às incertezas sobre o traçado original.

O início da milha, no Outeiro da Jeirinha, é marcado pela presença do miliário dedicado a Constâncio I. A partir deste ponto, o traçado classificado desce até uma pequena linha de água, que é necessário atravessar.

A subida subsequente pelos Seixos Brancos é bastante acentuada e possivelmente não representa o traçado original da via romana. Os caminhantes interessados em seguir o percurso mais autêntico possível podem considerar as alternativas mencionadas acima, embora estas não estejam oficialmente marcadas no terreno.

Após a subida aos Seixos Brancos, o traçado entronca na estrada nacional, que sobrepõe a via original por grande parte da extensão restante da milha. Neste trecho, é necessário caminhar pela berma da estrada, com a devida atenção ao tráfego rodoviário.

Próximo ao final da milha, o percurso segue por uma estreita portela onde o caminho se encontra completamente degradado, antes de voltar a entroncar na estrada nacional até o final da milha.

A paisagem ao longo desta milha passa de predominantemente arbórea no início, junto ao vale de Cubide, para mais arbustiva à medida que se aproxima do final, proporcionando vistas interessantes sobre o território circundante.

O pequeno outeiro com um penedo marcado com covinhas, cerca de 250 metros após o início da milha, constitui um ponto de interesse arqueológico adicional, possivelmente relacionado com ocupações pré-históricas da região.

Para os caminhantes mais interessados na autenticidade do percurso romano, as alternativas de traçado pela margem esquerda da linha de água merecem exploração, embora seja aconselhável obter orientações locais antes de aventurar-se por estes caminhos não sinalizados.

Marcos Miliários

No local de marcação da milha XXVI encontra-se um padrão dedicado a Constâncio I (305-306 d.C.). Da mesma milha, encontram-se também referências a outros padrões: um dedicado a Adriano (117-138 d.C.), atualmente convertido em fuste de cruzeiro e posto no lugar com o mesmo nome, encimado por uma escultura de Cristo crucificado; um dedicado a Décio (249-251 d.C.), que se encontra na aldeia de Cubide; e um dedicado a Licínio (308-324 d.C.), que segundo o Padre Mattos Ferreira foi destruído na sua época na aldeia de Cubide.

O Debate sobre o Traçado

A acentuada subida aos Seixos Brancos, aliada ao desnecessário cruzamento da mesma linha de água em dois pontos muito próximos e da referência, por parte de Fernando Cosme, que o padrão atualmente posto na marcação da milha teria vindo da base da encosta direita do pequeno ribeiro, levou-nos, em sede de trabalho de campo, a avaliar a área para aferir a possibilidade de entre estas milhas ter existido outro traçado.

Foram identificadas duas possibilidades alternativas ao traçado classificado:

  • a) Um caminho que segue pela margem esquerda da linha de água e que progride suavemente pela base da encosta, acompanhando a garganta de escoamento até ao local onde se encontra o Cruzeiro do Campo do Gerês. Esta possibilidade encontra eco na referência ao achado do padrão que marca a milha XXVII junto da base deste talvegue.
  • b) Seguindo pela margem esquerda, pode tomar-se um caminho à esquerda, a cerca de 310 m do início do percurso alternativo que conduz numa subida com alguma pendente, ao ponto de marcação da milha XXVII.

Serão necessários trabalhos de campo adicionais, aliados a investigação documental, para aferir da possibilidade e validade destas alternativas, sendo porém certo que o traçado atual, na subida que apresenta na zona dos Seixos Brancos, parece bastante improvável face ao que é comum na engenharia viária romana.

270

Costa do Cruzeiro m.p.XXVII

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O Vale do Campo do Gerês

Localização e Contexto

√A milha XXVII desenvolve-se desde o lugar da Revolta da Sobreira até ao lugar da Leira dos Padrões, atravessando a extensa veiga do Campo do Gerês. Assim como acontece na veiga de Cubide, o traçado exato da Via Nova neste trecho é objeto de discussão entre os arqueólogos, pois a intensa utilização agrícola da veiga ao longo dos séculos transformou significativamente a paisagem original.

Extensão e Características

A extensão exata desta milha é difícil de determinar com precisão devido às incertezas sobre o traçado original. O terreno é caracterizado por ser relativamente plano, típico de um ambiente de vale, contrastando com os trechos mais montanhosos anteriores da Via Nova.

À semelhança do que acontece na veiga de Cubide, o desenvolvimento da milha XXVII, assim como em parte da seguinte, foi obliterado pela paisagem agrária da veiga do Campo do Gerês, restando hoje algumas imagens do traçado da Jeira na memória popular, que contudo carecem de aferição científica. De ressalvar que o traçado classificado se encontra sobreposto ou imediatamente contíguo ao da Estrada Nacional.

A Memória da Via na Paisagem

Apesar das incertezas sobre o traçado exato, a memória da Via Nova permanece viva na toponímia local, como demonstra a existência da "rua da Jeira" na aldeia de São João do Campo. Esta persistência da memória da via na cultura local, mesmo após quase dois milênios, é testemunho da importância que esta estrada romana teve no desenvolvimento e na organização do território.

Notas para o Caminhante

A milha XXVII atravessa um ambiente de vale que contrasta com os trechos mais montanhosos anteriores da Via Nova. A veiga do Campo do Gerês oferece uma paisagem agrícola tradicional de grande interesse paisagístico e etnográfico.

Dado que o traçado exato da via neste trecho é incerto, o caminhante pode optar por seguir o percurso oficialmente classificado, que em grande parte acompanha a Estrada Nacional, ou explorar algumas das alternativas sugeridas pelos investigadores ou pela tradição local.

Um ponto de interesse importante é o Cruzeiro, onde se encontra um miliário de Décio (250 d.C.) reutilizado como fuste, encimado por uma escultura de Cristo crucificado e abrigado num baldaquino. Este local, próximo ao Museu da Geira, oferece também a oportunidade de obter mais informações sobre a história e a arqueologia da Via Nova.

A aldeia de São João do Campo, que segundo a tradição seria atravessada pela via original, merece uma visita. A rua da Jeira, que ainda mantém este nome, é um testemunho da memória coletiva relacionada com a antiga estrada romana.

Para os caminhantes interessados em explorar variantes do percurso sugeridas pelos investigadores, vale a pena identificar o caminho que corta a veiga antes da Ponte de Eixões, nos campos da Relva, ou o caminho que segue para nascente paralelamente à Estrada Nacional após o cruzeiro.

Ao longo deste trecho, o visitante deve estar atento à paisagem agrícola tradicional da veiga, com seus campos, sistemas de irrigação e pequenos núcleos habitacionais, que constituem em si mesmos um património cultural valioso, mesmo que não diretamente relacionado com o período romano.

Marcos Miliários

Para esta milha encontram-se referenciados 5 padrões: um dedicado a Magnêncio (350-353 d.C.), posto no local de marcação atual da milha; um dedicado a Décio (250 d.C.), reaproveitado para fuste de cruzeiro, rematado por uma escultura de Cristo crucificado e abrigado num baldaquino, no lugar que recebe o mesmo nome, junto ao Museu da Geira; um dedicado a Vespasiano (78 d.C.), descrito por Frei Bernardo de Brito e por Matos Ferreira, que refere uma inscrição relativa à inauguração dos trabalhos de ampliação da milha XXVII; um, cuja inscrição se encontra ilegível, posto à margem da estrada nacional, em frente ao caminho de acesso para o Adro; e um outro, mencionado por Frei Brito da Cunha como fraturado à sua época e cuja notícia nos dá conta o Padre Matos Ferreira.

Hipóteses de Traçado

Lemos et al. (2008, 201-203) refere, em acordo com Amaro (1997), duas possibilidades de traçado:

  • a) Depois do cruzeiro, a via seguiria pela EN até aos 710m, ponto onde virava para nascente, seguindo, grosso modo, paralela à estrada nacional até à Ribeira da Rocha, onde de novo entroncaria no mesmo traçado da EN 307.
  • b) No cruzeiro a via seguiria para poente, seguindo paralela a um caminho que corta pela veiga um pouco antes da ponte de Eixões, nos campos chamados da Relva. Passaria a norte o sítio do Adro Velho, cruzando o Rio de Campos por poldras, entroncando novamente na estrada nacional aos 1252m.

Além destas hipóteses acadêmicas, existe também uma forte tradição local sobre o traçado: a população de São João do Campo tem por tradição que a Jeira passaria a Ponte, seguindo pelo caminho velho para a aldeia, a qual atravessaria pela rua que ainda hoje recebe o nome de Jeira, entroncando depois na estrada nacional no lugar dos Padrões, hoje cruzamento da rua da Jeira com a rua do Parque.

280

Campo do Gerês m.p.XXVIII

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A Vereda de São João do Campo

Localização e Contexto

A milha XXVIII desenvolve-se entre o lugar de Leira dos Padrões e a Bouça do Gavião. Neste trecho, a Via Nova atravessa a parte superior da veiga do Campo do Gerês, antes de iniciar uma descida mais acentuada em direção ao lugar de Vilarinho das Furnas, atualmente submerso na albufeira da barragem.

Extensão e Características

Estima-se que esta milha tivesse aproximadamente 1646m de extensão, apresentando um traçado bastante regular até ao lugar de Gavião, onde a entrada no caminho das Laceiras representa uma descida com uma pendente acentuada, descendo dos 650m para 620m, numa extensão de aproximadamente 620m.

O local de início da milha XXVIII é meramente hipotético e considera-se normalmente ser na Leira dos Padrões, no cimo da Veiga do Campo.

Estado de Conservação

No caminho das Laceiras, o leito da via encontra-se completamente destruído pela força das águas pluviais nos 200 m iniciais, uma vez que serve de canal de escoamento à passagem hidráulica da estrada de acesso à Barragem. A via encontra-se destruída também na travessia junto ao muro da bateria e bastante degradada daí até à marcação da milha seguinte.

Notas para o Caminhante

  • A milha XXVIII oferece ao caminhante uma experiência rica em elementos históricos, arqueológicos e paisagísticos. O percurso inicia-se na Leira dos Padrões, no cimo da Veiga do Campo, e segue um traçado relativamente regular até à entrada no caminho das Laceiras.
  • O caminhante deve estar atento aos vestígios do piso original da Via Nova na zona da Guarda, sobre a margem esquerda da Estrada Nacional, que foram recentemente identificados. Este trecho é particularmente interessante do ponto de vista arqueológico.
  • A descida pelo caminho das Laceiras, embora degradada, oferece vistas impressionantes sobre o vale e a albufeira de Vilarinho das Furnas. No entanto, é necessária cautela nos primeiros 200 metros deste caminho, que se encontram severamente danificados pela erosão causada pelas águas pluviais.
  • A aldeia de São João do Campo, com seus miliários reutilizados em construções locais, merece uma visita. Particularmente interessante é o miliário integrado na parede de uma casa privada no centro da aldeia e o outro, anepígrafo, incorporado na parede de uma corte de gado.
  • Para aqueles interessados na história local, a proximidade com a antiga aldeia de Vilarinho das Furnas, hoje submersa, adiciona uma camada extra de significado histórico e cultural à experiência de caminhar por este trecho da Via Nova. O Centro Interpretativo de Vilarinho das Furnas, localizado nas proximidades, oferece informações valiosas sobre esta aldeia comunitária e sua relação com o território circundante, incluindo a antiga estrada romana.
  • O Parque de Campismo de Cerdeira, cujos terrenos são atravessados pelo traçado da via, oferece uma opção de alojamento para os caminhantes que desejem pernoitar na região e explorar com mais calma este fascinante trecho da Via Nova e seu entorno.

Marcos Miliários

Para esta milha, Rodríguez Colmenero, Ferrer Sierra, & Álvarez Asorey (2004, pp. 448-452) associam 10 miliários, dispersos pela veiga e pela aldeia de São João: um dedicado a Caro (282-283 d.C), depositado no jardim duma residência privada, propriedade do Sr. José Rodrigues Pires; um dedicado a Magnêncio, referenciado pelo Padre Mattos Ferreira, e que se encontra em parte incerta; dois que o Padre Mattos Ferreira diz terem sido destruídos em obras de reparação da Igreja de São João do Campo; um, fraturado, integrado na parede duma casa privada no centro da aldeia, propriedade da Sr.ª América Rodrigues Ribeiro; outro, anepígrafo, integrado na parede de uma corte de gado, na aldeia de São João; fragmento de outro, identificado no lugar de Porto do Carro; e um outro, mencionado por Mattos Ferreira, que diz ter sido desbastado para fazer o púlpito da Igreja matriz.

Traçado e Evidências Arqueológicas

Embora desconheçamos o local de início da milha XXVIII, o restante traçado encontra-se consensualmente reconhecido, tendo recentemente sido identificado o piso da Jeira na zona da Guarda, sobre a margem esquerda da estrada Nacional.

A Jeira viria paralela à estrada nacional, em terrenos atualmente pertencentes ao Parque de Campismo de Cerdeira, subindo ligeiramente no lugar onde a propriedade parte com a do Sr. João Martins, infletindo ligeiramente para poente, aproveitando a pequena portela aí existente, para depois tomar o caminho das Laceiras, que descia em direção ao lugar de Vilarinho das Furnas. Contornando o promontório da Guarda, encontramos a marcação da milha seguinte.

290

Bouça do Gavião m.p.XXIX

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À Beira da Albufeira

Localização e Contexto

A milha XXIX desenvolve-se entre a Bouça do Gavião e a Bouça da Mó, marcando um dos trechos mais singulares da Via Nova, onde o percurso original encontra-se parcialmente submerso pela albufeira da Barragem de Vilarinho das Furnas. Este segmento oferece um testemunho vívido do impacto das transformações modernas sobre o patrimônio arqueológico.

Extensão e Características

A extensão exata desta milha é difícil de determinar com precisão devido à sua submersão parcial na albufeira de Vilarinho das Furnas. O traçado original descia abaixo dos muros da bateria da Guarda, por entre uma vegetação luxuriosa, pautada por algumas linhas de água, que hoje usam o plano da via para drenagem na albufeira de Vilarinho, que submerge a via a cerca de 525 m do início desta milha, cenário que se mantém até aproximadamente 480 m da milha seguinte.

A milha XXIX desenvolve-se abaixo dos muros da bateria da Guarda, descendo entre muros por entre uma vegetação luxuriosa, pautada por algumas linhas de água, que usam o plano da via para drenagem na albufeira de Vilarinho, que submerge a via a cerca de 525 m do início desta milha, cenário que se mantém até aproximadamente 480 m da milha seguinte.

Conforme mencionado pelo Padre Mattos Ferreira, existiriam mais quatro padrões, três deles destruídos por um morador de Vilarinho das Furnas, que os partiu para reaproveitamento na sua propriedade, e outro dedicado a Maximiano (286-305 d.C.), atualmente em paradeiro desconhecido.

A Submersão na Albufeira

A milha XXIX marca o local onde a Jeira se encontra, atualmente, submersa na albufeira da Barragem de Vilarinho das Furnas. Entre a marcação da milha e o início do espelho de água, é ainda possível reconhecer o seu traçado, lajeado nas partes mais íngremes da descida, correndo entre muros praticamente até à albufeira. O percurso encontra-se submerso até aos 480 m da milha seguinte, podendo ser observado em períodos de maior seca, como foi o caso deste último verão.

No verão de 2019, pautado por um longo estio, foi-nos possível observar o leito da Jeira ainda conservado sob os sedimentos do leito da barragem.

Este fenômeno da submersão parcial de um trecho da Via Nova oferece uma perspectiva única sobre os desafios de preservação do patrimônio arqueológico face às necessidades de desenvolvimento moderno, representadas neste caso pela construção da barragem.

A Bateria da Guarda

A presença da "bateria da Guarda" nas proximidades do início desta milha adiciona uma camada extra de interesse histórico a este trecho. Esta estrutura defensiva, possivelmente relacionada com conflitos fronteiriços de períodos mais recentes, ilustra como a rota estratégica estabelecida pelos romanos continuou a ter importância militar ao longo dos séculos.

Evidências Arqueológicas

Desde o início da milha até ao ponto em que esta se encontra submersa pela albufeira, a via segue por entre um denso bosque de caducifólias. Neste trecho são visíveis numerosas marcas de rodados e segmentos de pavimento lajeado, particularmente nas partes mais íngremes da descida.

Notas para o Caminhante

  • A milha XXIX oferece uma experiência única aos visitantes, combinando interesse arqueológico com fenômenos da transformação moderna da paisagem. O conjunto de 13 miliários no início da milha constitui um dos pontos de maior interesse arqueológico de todo o percurso da Via Nova, oferecendo uma oportunidade excepcional para observar a evolução da epigrafia romana ao longo de vários séculos.
  • O traçado entre o início da milha e o ponto em que esta encontra a albufeira pode ser percorrido sem grandes dificuldades, permitindo observar trechos de pavimento lajeado original e a forma como a via desce entre muros em direção ao que hoje é o lago artificial.
  • Em períodos de seca extrema, como ocorreu no verão de 2019, é possível observar partes do leito original da via que normalmente se encontram submersas. Estas ocasiões raras oferecem oportunidades valiosas para estudar a continuidade do traçado sob a albufeira e avaliar o estado de conservação destes segmentos geralmente inacessíveis.
  • Para os interessados na história mais recente da região, os muros da bateria da Guarda, visíveis acima do início da milha, constituem um ponto de interesse adicional, ilustrando a continuidade da importância estratégica deste percurso ao longo dos séculos.
  • A densa vegetação caducifólia que caracteriza este trecho proporciona uma experiência de imersão na natureza, contrastando com a intervenção humana representada pela albufeira.

    Esta justaposição entre elementos naturais, vestígios arqueológicos romanos e transformações modernas torna a milha XXIX particularmente rica em termos de leitura da paisagem cultural.

  • Recomenda-se aos visitantes que verifiquem previamente as condições de acesso a este trecho, pois o nível da albufeira pode afetar a visibilidade e acessibilidade de partes do percurso. Em períodos de maior pluviosidade, deve-se também ter cuidado com as linhas de água que utilizam partes do traçado da via como canais de drenagem.

Marcos Miliários

A milha XXIX inicia-se nas proximidades da Ponte Feia, sinalizando-se junto do edifício do "Académico", onde se encontra uma impressionante concentração de 13 padrões, revelando a importância histórica deste trecho da via. Entre estes miliários destacam-se:

  • Um padrão dedicado a Tito e Domiciano (80 d.C.)
  • Um padrão dedicado a Maximino e Máximo (235 d.C.)
  • Um padrão dedicado a Galério (305-311 d.C.)
  • Um padrão dedicado a Constâncio II (337-361 d.C.)
  • Dois padrões cujas respetivas inscrições não apresentam leitura
  • Seis padrões anepígrafos, fragmentados

Conforme mencionado pelo Padre Mattos Ferreira, existiriam mais quatro padrões, três deles destruídos por um morador de Vilarinho das Furnas, que os partiu para reaproveitamento na sua propriedade, e outro dedicado a Maximiano (286-305 d.C.), atualmente em paradeiro desconhecido.

300

Bouça do Mó m.p.XXX

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Milha XXX: A Mutatio de Bouça da Mó

Localização e Contexto

A milha XXX desenvolve-se entre o Lugar da Bouça da Mó e o lugar do Bico da Geira, marcando um trecho particularmente significativo da Via Nova tanto do ponto de vista arqueológico como paisagístico. Este segmento é notável pela presença de estruturas de apoio oficiais à via romana, conhecidas como mutationes, e pela sua envolvente na majestosa Mata de Albergaria.

Extensão e Características

Com uma extensão de aproximadamente 1560 metros, a milha XXX começa com os primeiros metros submersos na albufeira de Vilarinho das Furnas, prosseguindo depois por entre o denso coberto vegetal da Mata de Albergaria. Após aproximadamente 840 metros, a via entronca na estrada florestal da Mata, que sobrepõe o traçado romano até ao cruzamento do Rio Maceira, já na milha seguinte.

A milha XXX é marcada pela presença de uma estrutura de apoio escavada e para a qual existem dados concretos de datação e argumentos sólidos de interpretação, no sentido de se ter tratado de uma Mutatio. Este local encontra-se, lamentavelmente, abaixo da cota da barragem.

A partir deste local, que se pressupõe ter sido ponto de marcação de milha por nele se ter identificado o topo de um miliário que parece estar in situ, a Jeira começa a subir gradualmente, por entre o que agora é o denso coberto arbóreo e arbustivo da Mata de Albergaria, até entroncar na estrada florestal da Mata, aos 840 m, sobrepondo esta o traçado da Jeira até ao cruzamento do Rio Maceira, já a meio da milha seguinte.

A Mutatio da Bouça da Mó

A milha XXX foi definitivamente identificada na Bouça da Mó, aquando da intervenção arqueológica realizada em 1992. Esta intervenção permitiu identificar o edifício, de planta retangular, que se interpretou como mutatio e nas suas proximidades, o topo de um padrão que se pressupõe que esteja, ainda, fincado in situ. As estruturas submersas encontram-se bastante danificadas pelo movimento das águas.

As mutationes eram estruturas de apoio ao cursus publicus (o sistema postal romano) e aos viajantes em geral, oferecendo a possibilidade de troca de montadas e um lugar para breve descanso. A descoberta e escavação desta mutatio na Bouça da Mó é particularmente importante para a compreensão do funcionamento da Via Nova como eixo de comunicação do Império Romano.

Marcos Miliários

Para esta milha são conhecidos quatro padrões: um dedicado a Constantino II, Constâncio e Constante (337-340 d.C.), um outro em estudo, um em paradeiro desconhecido e um quarto aparentemente ainda fincado in situ, parcialmente visível na Bouça da Mó.

Deste local foram ainda recolhidos outros três padrões: um dedicado aos filhos de Constantino; outro, mencionado por Mattos Ferreira como tendo sido levado do local por um habitante de Vilarinho e um terceiro, recolhido em 2007 do mesmo local e transportado para o Museu da Jeira, onde aguarda estudo.

Mata de Albergaria

Nos metros iniciais a milha encontra-se submersa, para depois prosseguir embrenhada no coberto vegetal da Mata de Albergaria, uma floresta que representa um dos últimos redutos de carvalhal nativo da região. Embora a composição atual da mata seja bastante diferente da que existiria na época romana, este ambiente florestal proporciona uma experiência imersiva única para os caminhantes da Via Nova.

A partir deste local, que se pressupõe ter sido ponto de marcação de milha por nele se ter identificado o topo de um miliário que parece estar in situ, a Jeira começa a subir gradualmente, por entre o que agora é o denso coberto arbóreo e arbustivo da Mata de Albergaria, até entroncar na estrada florestal da Mata, aos 840 m.

Evidências Arqueológicas

Além das estruturas da mutatio e dos miliários, este trecho da Via Nova apresenta vários segmentos de pavimento lajeado, especialmente nas travessias de linhas de água. Estas evidências são testemunho da perícia dos engenheiros romanos na construção de vias duráveis mesmo em ambientes tão desafiantes como as encostas montanhosas do Gerês.

Em vários pontos deste trecho são também visíveis marcas de rodados, que permitem compreender a utilização efetiva da via pelos veículos romanos.

Notas para o Caminhante

  • A milha XXX oferece aos visitantes uma experiência única de imersão na paisagem da Mata de Albergaria, combinada com elementos arqueológicos de excepcional interesse.
  • A primeira parte desta milha, que inclui as estruturas da mutatio, encontra-se submersa na albufeira de Vilarinho das Furnas, sendo apenas visível em períodos de seca extrema. No entanto, a partir do ponto em que a via emerge da albufeira, o percurso torna-se acessível e oferece uma caminhada agradável por entre a densa vegetação da mata.
  • O entroncamento com a estrada florestal, aproximadamente a 840 metros do início da milha, marca uma mudança no carácter do percurso. A partir deste ponto, o caminhante segue pela estrada florestal, que sobrepõe o traçado original da via romana.
  • Em determinados pontos ao longo do percurso são visíveis segmentos de pavimento lajeado original, especialmente nas travessias de linhas de água, que constituem pontos de interesse arqueológico particulares.
  • A paisagem da Mata de Albergaria, com seu denso coberto vegetal composto por espécies nativas e introduzidas, proporciona uma experiência sensorial rica, especialmente em termos visuais e olfativos. Esta imersão na natureza, combinada com a consciência de estar percorrendo uma via com quase dois mil anos de história, cria uma experiência única para o caminhante.
  • Recomenda-se aos visitantes que verifiquem previamente o nível da albufeira de Vilarinho das Furnas, pois isto afetará o ponto exato onde a via emerge da água e se torna acessível. Calçado adequado para terreno florestal é aconselhável, especialmente em períodos de maior humidade.
  • Para os interessados em arqueologia, vale a pena visitar o Museu da Jeira, onde se encontra um dos miliários recolhidos da Bouça da Mó e onde é possível obter mais informações sobre a mutatio e outros aspectos da Via Nova.

A Mutatio da Bouça da Mó

A milha XXX foi definitivamente identificada na Bouça da Mó, aquando da intervenção arqueológica realizada em 1992. Esta intervenção permitiu identificar o edifício, de planta retangular, que se interpretou como mutatio e nas suas proximidades, o topo de um padrão que se pressupõe que esteja, ainda, fincado in situ. As estruturas submersas encontram-se bastante danificadas pelo movimento das águas.

As mutationes eram estruturas de apoio ao cursus publicus (o sistema postal romano) e aos viajantes em geral, oferecendo a possibilidade de troca de montadas e um lugar para breve descanso. A descoberta e escavação desta mutatio na Bouça da Mó é particularmente importante para a compreensão do funcionamento da Via Nova como eixo de comunicação do Império Romano.

Marcos Miliários

Para esta milha são conhecidos quatro padrões: um dedicado a Constantino II, Constâncio e Constante (337-340 d.C.), um outro em estudo, um em paradeiro desconhecido e um quarto aparentemente ainda fincado in situ, parcialmente visível na Bouça da Mó.

Deste local foram ainda recolhidos outros três padrões: um dedicado aos filhos de Constantino; outro, mencionado por Mattos Ferreira como tendo sido levado do local por um habitante de Vilarinho e um terceiro, recolhido em 2007 do mesmo local e transportado para o Museu da Jeira, onde aguarda estudo.

Evidências Arqueológicas

Além das estruturas da mutatio e dos miliários, este trecho da Via Nova apresenta vários segmentos de pavimento lajeado, especialmente nas travessias de linhas de água. Estas evidências são testemunho da perícia dos engenheiros romanos na construção de vias duráveis mesmo em ambientes tão desafiantes como as encostas montanhosas do Gerês.

Em vários pontos deste trecho são também visíveis marcas de rodados, que permitem compreender a utilização efetiva da via pelos veículos romanos.